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29 de Julho de 2018
A FOME DO SER HUMANO CENA 1 – Desço o elevador do CASA DAS CALDEIRAS de maneira apressada e atravesso a rua pra ir almoçar no Burger King, coisa que fazia rotineiramente no meu dia a dia da sede antiga da Loja dos Patins (www.lojadospatins.com.br).
Enquanto me deliciava com o almoço, percebo dois meninos à porta da lanchonete, à espera de uma boa ação. Não perco tempo: levanto, peço dois hambúrgueres e continuo comendo acompanhando o desenrolar dos dois.
Em pouco tempo os lanches ficam prontos. Ambos dão aquele sorriso típico do brasileiro, a mistura natural do malandro. Dão duas ou três mordidas no lanche, embrulham o “resto”, jogam no lixo e vão embora.
PAUSA. Pra além de terem jogado quase todo o lanche no lixo (O Whooper é enorme), deixaram a mesa toda bagunçada: guardanapo, picles, catchup, etc.
Fiquei com aquela pose de idiota, por pouco não corri até os dois, pegar pelo braço, dar uma lição de moral. Mas pra que? Ainda me iam acusar de bater em menores, ser coxinha, racismo, não tolerar os menos favorecidos.
A maior pobreza das pessoas não está nas poucas coisas que acumulam, mas no espírito.
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CENA 2 – Ontem foi dia de mais um jantar da CREFISA. Todo aquele glamour, comida boa, lugar chique. Pessoas bem vestidas discutindo a modernidade do meu clube do coração (Dia 4 de agosto, votem SIM!).
Pouco antes da sobremesa, resolvi ir pra casa, recusar aquelas calorias de um (provavelmente imperdível) mousse de chocolate, como anunciava o cardápio.
Fui até a recepção, liguei o UBER pra solicitar um transporte. O aplicativo me informou que a corrida sairia pouco mais de R$ 35,00. Achei caro. Provavelmente por causa da hora, ou por haver poucos carros na região. Decidi ir andando até o metrô, caminhando pela avenida mais famosa de São Paulo.
Ainda no quarteirão do hotel, um carroceiro parado à porta de um restaurante me suplicou: “Por favor, me compre comida. Arroz, feijão, por favor!”. Lembrei-me dos moleques do Burger King, quase com certeza. Passei direto.
Respirei fundo, dei mais uns passos. Parei. Quanta angústia deve carregar na alma quem não consegue comprar a própria comida?
Entrei no restaurante, pedi uma marmita. Vi a reação desconcertante do gerente sem saber muito que fazer. Não conhecia e não tinha percebido que era um restaurante renomado (MORAIS, com várias placas de prêmio pela parede), mas apareceu um garçom pra me mostrar um prato barato, o mesmo que teria me custado o UBER.
Entreguei a quentinha pra o carroceiro que me agradeceu muito e confesso que fiquei um pouco receoso quando me apertou a mão – suja – mas era um protocolo a seguir.
Continuei minha caminhada, pensando várias coisas.
Não faço a menor ideia se o carroceiro ia comer só um pouco da comida e jogar o resto fora, como fizeram os meninos do Burger King. Também se ele merecia mesmo a comida que acabou de ganhar. Ou se o cozinheiro do restaurante faz um prato mais fuleiro, colocando alguma coisa encalhada na marmita, no meio daqueles gestos que trocaram no processo de produção.
EU FIZ O QUE A MIM PARECIA SER O CERTO.
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- PÓS CENAS -
Uma amiga minha me disse que toda vez que eu posto uma boa ação que eu fiz, ela deixa de ter valor. Pois bem: prefiro acreditar que esses relatos inspirem pessoas a fazerem coisas parecidas, do que me julguem a ganhar créditos de confiança.
Até porque, nestes últimos anos, cada vez mais a opinião dos outros sobre mim pouco importa. Passei por situações extremamente decepcionantes. Meus grandes amigos não eram tão grandes assim. E das revoluções que eu tento fazer a cada dia por um mundo melhor, pode ficar só a impressão errada que eu sou apenas um encrenqueiro, quando na verdade, eu faço muito mais pelos outros do que faço a mim mesmo.
Interesseiros e mal agradecidos vão existir SEMPRE, em qualquer lugar. Mas que isso não sirva de motivação para você se fechar e deixar de ser bom para o mundo. Digo por mim mesmo: quem diria que meu dinheiro era mais importante que minha companhia? Deixem que falem o que quiserem, mas SEJA o que você é.
Muitos de vocês não fazem ideia da minha luta diária em deixar um mundo melhor pra todo mundo. Mas, dia após dia, os fatos se tornam inegáveis.
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